A Escola de Bufões 11/ 7/ 1990 - Rio de Janeiro/RJ Teatro Villa-Lobos |
Com direção de Moacyr Góes e atores da Companhia de Encenação Teatral, o espetáculo exalta a teatralidade, por meio da sintonia entre luz, cenário, figurinos, adereços, coreografia e um texto que aborda o universo dos bufões medievais.
Escrito pelo belga Michel de Ghelderode, tem por tema a decadência da atividade dos bufões, no século XVI. A horda de fanfarrões disformes e grotescos ocupa ruínas ou porões, excluídos do mundo renascentista. A peça vê na bufonaria, entre os homens que representam o lado mais avesso da existência, os meios para reinventar a vida.
O cenário de Hélio Eichbauer abre diversos alçapões e retira a parte frontal do tablado, tornando visível a parte debaixo do palco. Esses buracos são usados pela intensa movimentação acrobática concebida por Deborah Colker. O público divide com os atores a tensão pelo risco da representação. Esse movimento, ao mesmo tempo que colabora para a definição da figura desajeitada do bufão, acrescenta-lhe um sentido poético. A música de Mário Vaz de Mello fornece o tom desse prazer cruel, conceituando com a sonoridade a leveza e, paradoxalmente, o farsesco do ofício dos bufões.
A crítica Barbara Heliodora lamenta as limitações do tratamento dado ao texto em comparação com a exuberância visual da encenação, mas reconhece no palco "um espetáculo de extraordinária vida cênica em termos de cor e movimento".1 Marcos Ribas de Faria escreve, no Jornal do Brasil, que o diretor "faz a dramaturgia do espaço" e "chega à dramaturgia da representação ou do ator".2
O crítico Macksen Luiz define a direção como uma "requintada procura do equilíbrio instável", dedicada a pensar a função da arte por meio de feias e tristes figuras e cumprindo "o papel de discutir a contemporaneidade do ato teatral". Segundo o crítico a imagem da dança do mestre Folial, interpretado por Floriano Peixoto, com o bedel Galgut, por Leon Góes, é "um dos momentos mais fortes do teatro carioca nas últimas temporadas".3Também o elenco merece admiração do crítico:
"Moacyr Góes rege uma sinfonia cruel, que trata todo o tempo de questões de vida, mas com pompa fúnebre de mortes anunciadas. Os executantes dessa sinfonia são atores que demonstram uma disponibilidade admirável para a proposta do diretor. Não se trata apenas de um esforço físico notável, mas de uma capacidade de concentração sobre personagens que se expressam pela corporeidade. Todo o elenco de apoio são bufões perfeitos que ocupam o palco com uma presença envolvente e algo repulsiva. Realizam com precisão as exigências corporais e vocais, numa unidade cênica de ação poética".4
Notas
1. HELIODORA, Barbara. Vida, cor e movimento. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 jul. 1990.
2. FARIA, Marcos Ribas de. Plenitude criadora. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 jul. 1990.
3. LUIZ, Macksen. Os bufões da arte. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 jul. 1990. Caderno B, p. 4.
4. Ibid.
Eu pude apreciar essa maravilha de peça, com um detalhe que a fez ainda mais preciosa: O próprio Moacyr Goes, substituiu um ator, nos brindando com sua interpretação.
ResponderExcluirAlguém sabe dizer por que não tem os nomes dos atores da peça? Ou está faltando uma página do programa?
ResponderExcluirFIZ da Cia de Encenação teatral, eis o elenco das duas montagens: Elenco / Personagem (Premiação)
ExcluirAdriana Garambone / Bufão
Antonella Batista / A Escola de Bufões
Bel Kutner / A Escola de Bufões
Christiana Kalache / A Escola de Bufões
Cláudia Lira / A Escola de Bufões
Floriano Peixoto / Folial
Frederico Benedini / A Escola de Bufões
Gaspar Filho / A Escola de Bufões
Leon Góes / A Escola de Bufões
Lucia Helena / A Escola de Bufões
Margot Carone / A Escola de Bufões
Marina Salomon / A Escola de Bufões
Maurício Marques / A Escola de Bufões
Paula Newlands / A Escola de Bufões
Paulo Vespúcio / A Escola de Bufões
Sérgio Maciel / A Escola de Bufões
Silvia Buarque / A Escola de Bufões
criei e confeccionei os figurinos e adereços. Samuel Abrantes.
EU FIZ OS FIGURINOS E ADEREÇOS DO ESPETÁCULO. UM MOMENTO MUITO ENRIQUECEDOR DA CENA TEATRAL NO RIO, AQUELES ANOS 90, UM DIVISOR DE ÁGUAS NAS CARREIRAS DE TODOS ENVOLVIDOS. QUANTA SAUDADE!!
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